Maria do Mar (1930) António Leitão de Barros
A Nazaré iria servir pela primeira vez de cenário a um filme português em 1923, com Os Olhos da Alma de Roger Lion.
Olhos da Alma (1923) Roger Lion
Para o investigador Paulo Manuel Ferreira da Cunha a curiosidade deste filme foi “a extraordinária revelação da comunidade piscatória que rapidamente se iria tornar um dos cenários mais trágicos, folclóricos e emblemáticos da marcha do cinema português” (1).
Assim, em 1929 seria a vez de António Leitão de Barros apresentar o documentário Nazaré, Praia de Pescadores, que terá sido inspirado por um filme amador de António Lopes Ribeiro (2). Desta obra restam nos nossos dias apenas 318 metros dos 900 metros de película da versão original. No entanto, o que dele restou é plasticamente admirável, observa o historiador e crítico de cinema João Bénard da Costa, acrescentando que “talvez nunca mais tenha voltado a ser conseguido, com tanta força e pureza, na obra do autor” (3).
Considerado como a grande referência da década de vinte, este documentário evidencia fortes influências do cinema de vanguarda da época, em particular do cinema soviético e de autores como Sergei Eisenstein. Com Nazaré, Praia de Pescadores tinha nascido um possível cinema português, aponta o historiador de cinema Luís de Pina:” era um caminho, que veio a ser trilhado por mais alguns e que teve sempre a vantagem de fugir às ilusões realistas pela via do lírico e, porque não, do sentimental" (4).
Para o investigador Paulo Manuel Ferreira da Cunha a curiosidade deste filme foi “a extraordinária revelação da comunidade piscatória que rapidamente se iria tornar um dos cenários mais trágicos, folclóricos e emblemáticos da marcha do cinema português” (1).
Assim, em 1929 seria a vez de António Leitão de Barros apresentar o documentário Nazaré, Praia de Pescadores, que terá sido inspirado por um filme amador de António Lopes Ribeiro (2). Desta obra restam nos nossos dias apenas 318 metros dos 900 metros de película da versão original. No entanto, o que dele restou é plasticamente admirável, observa o historiador e crítico de cinema João Bénard da Costa, acrescentando que “talvez nunca mais tenha voltado a ser conseguido, com tanta força e pureza, na obra do autor” (3).
Considerado como a grande referência da década de vinte, este documentário evidencia fortes influências do cinema de vanguarda da época, em particular do cinema soviético e de autores como Sergei Eisenstein. Com Nazaré, Praia de Pescadores tinha nascido um possível cinema português, aponta o historiador de cinema Luís de Pina:” era um caminho, que veio a ser trilhado por mais alguns e que teve sempre a vantagem de fugir às ilusões realistas pela via do lírico e, porque não, do sentimental" (4).
Nazaré, Praia de Pescadores (1929) António Leitão de Barros
Em 1930, Leitão de Barros faz estrear a sua primeira longa-metragem de ficção – Maria do Mar -, que teve de novo como palco a Nazaré. Esta obra foi unanimemente considerada na época da sua estreia como “o maior acontecimento cinematográfico português até então” (5). Entre o filme de ficção e o documentário, Maria do Mar juntava à comunidade piscatória da Nazaré alguns dos maiores actores de teatro dessa altura, como Adelina Abranches e Alves da Cunha.
A narrativa é singela e convencional, na opinião do historiador de cinema Luís de Pina, sendo os pontos fortes do filme a linguagem plástica das imagens e o lado documental da acção. Ainda, Luís de Pina destaca a audácia e modernidade de Leitão de Barros “no modo como revelou sensualmente os corpos e como insinuou um claro erotismo em algumas cenas (o pai afagando os seios da filha, o pescador quase nu trazendo a rapariga nua sob o vestido molhado, a recortar-lhe as formas, o banho das jovens perto da foz)”, injectando uma outra verdade e uma motivação mais intensa aos comportamentos (5).
Nazaré (1952) Manuel Guimarães
Na década de vinte como na década de cinquenta, quando cineastas portugueses se voltaram para o realismo, para a autenticidade, a Nazaré serviu de matéria-prima a alguns objectos singulares na cinematografia nacional. O investigador Paulo Manuel Ferreira da Cunha defende que “a introdução em Portugal de processos realistas da filmagem natural (…) e a influência das cinematografias realistas externas levaram os nossos cineastas à descoberta do mais característico cenário rural nacional: a pequena comunidade piscatória da Nazaré”, que se destacava pela sua riqueza etnográfica, humana e pitoresca (7).
E hoje, ainda há filmes para rodar na Nazaré?
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É livre a reprodução para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam devidamente citados.
Citar como: Quico, Célia (2008) “A presença da Nazaré no Cinema Português: entre o vanguardista e o folclórico”. Disponível em <http://nazare-portugal.blogspot.com/2008/06/presena-da-nazar-no-cinema-portugus.html> acedido em (data).
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Notas:
(1) (2) Ferreira da Cunha, Paulo Manuel (2001) “O Pescador: representações do homem e do seu meio no Cinema Português”, revista Oceanos “Os Pescadores” nº 47/48 Julho-Dezembro 2001, edição Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses.
(3) Bénard da Costa, João (1991) Histórias do Cinema, colecção Sínteses da Cultura Portuguesa, Europália 91, edição Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Citação disponível online em (consultado em 2007-07-03): http://www.amordeperdicao.pt/basedados_filmes.asp?filmeid=474
(4) (5) Pina, Luís de (1986) História do Cinema Português, edição Europa-América. Citação disponível online em (consultado em 2007-07-03): http://www.amordeperdicao.pt/basedados_filmes.asp?filmeid=474
(6) (7) Ferreira da Cunha, Paulo Manuel (2001) “O Pescador: representações do homem e do seu meio no Cinema Português”, revista Oceanos “Os Pescadores” nº 47/48 Julho-Dezembro 2001, edição Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses.
Em 1930, Leitão de Barros faz estrear a sua primeira longa-metragem de ficção – Maria do Mar -, que teve de novo como palco a Nazaré. Esta obra foi unanimemente considerada na época da sua estreia como “o maior acontecimento cinematográfico português até então” (5). Entre o filme de ficção e o documentário, Maria do Mar juntava à comunidade piscatória da Nazaré alguns dos maiores actores de teatro dessa altura, como Adelina Abranches e Alves da Cunha.
A narrativa é singela e convencional, na opinião do historiador de cinema Luís de Pina, sendo os pontos fortes do filme a linguagem plástica das imagens e o lado documental da acção. Ainda, Luís de Pina destaca a audácia e modernidade de Leitão de Barros “no modo como revelou sensualmente os corpos e como insinuou um claro erotismo em algumas cenas (o pai afagando os seios da filha, o pescador quase nu trazendo a rapariga nua sob o vestido molhado, a recortar-lhe as formas, o banho das jovens perto da foz)”, injectando uma outra verdade e uma motivação mais intensa aos comportamentos (5).
Maria do Mar (1930) António Leitão de Barros
Em 1952, Manuel Guimarães estreava a longa-metragem de ficção Nazaré, sobre a condição social dos pescadores nazarenos, sendo o argumento baseado numa história de Alves Redol (que viria a publicar em 1959 o romance Uma Fenda na Muralha sobre os pescadores da Nazaré). Desde meados da década de quarenta que sopravam novos ventos no Cinema: a vanguarda cinematográfica era agora liderada por cineastas como Roberto Rossellini, Luchino Visconti e Michelangelo Antonioni. Estes e outros realizadores viriam a formar o movimento neo-realista italiano, que se caracterizava pela atenção dada à condição das classes trabalhadores e dos pobres, pela rodagem nos locais em detrimento do estúdio, pela importância dada aos actores amadores em detrimento das estrelas e actores profissionais. O neo-realismo italiano viria a influenciar cineastas de todo o mundo, inclusivé de Portugal, como foi o caso de Manuel Guimarães. A sua primeira longa-metragem Saltimbancos (1951), apesar dos cortes impostos pela Censura, marca a diferença em relação às comédias de tom ligeiro da época e às grandes produções sobre temas da História de Portugal.
Assim, havia muita expectativa quando ao próximo filme de Manuel Guimarães: no entanto, Nazaré vem a decepcionar, já que apesar da intenção de recusa do folclórico, acabou por exibir ”muitas semelhanças com o tipo de filme populista e ruralista tão profícuo em décadas anteriores”, como nota Paulo Manuel Ferreira da Cunha. De notar que tal como aconteceu com o seu anterior filme, Manuel Guimarães também viu Nazaré sofrer cortes da Censura (6).
Em 1952, Manuel Guimarães estreava a longa-metragem de ficção Nazaré, sobre a condição social dos pescadores nazarenos, sendo o argumento baseado numa história de Alves Redol (que viria a publicar em 1959 o romance Uma Fenda na Muralha sobre os pescadores da Nazaré). Desde meados da década de quarenta que sopravam novos ventos no Cinema: a vanguarda cinematográfica era agora liderada por cineastas como Roberto Rossellini, Luchino Visconti e Michelangelo Antonioni. Estes e outros realizadores viriam a formar o movimento neo-realista italiano, que se caracterizava pela atenção dada à condição das classes trabalhadores e dos pobres, pela rodagem nos locais em detrimento do estúdio, pela importância dada aos actores amadores em detrimento das estrelas e actores profissionais. O neo-realismo italiano viria a influenciar cineastas de todo o mundo, inclusivé de Portugal, como foi o caso de Manuel Guimarães. A sua primeira longa-metragem Saltimbancos (1951), apesar dos cortes impostos pela Censura, marca a diferença em relação às comédias de tom ligeiro da época e às grandes produções sobre temas da História de Portugal.
Assim, havia muita expectativa quando ao próximo filme de Manuel Guimarães: no entanto, Nazaré vem a decepcionar, já que apesar da intenção de recusa do folclórico, acabou por exibir ”muitas semelhanças com o tipo de filme populista e ruralista tão profícuo em décadas anteriores”, como nota Paulo Manuel Ferreira da Cunha. De notar que tal como aconteceu com o seu anterior filme, Manuel Guimarães também viu Nazaré sofrer cortes da Censura (6).
Nazaré (1952) Manuel Guimarães
Na década de vinte como na década de cinquenta, quando cineastas portugueses se voltaram para o realismo, para a autenticidade, a Nazaré serviu de matéria-prima a alguns objectos singulares na cinematografia nacional. O investigador Paulo Manuel Ferreira da Cunha defende que “a introdução em Portugal de processos realistas da filmagem natural (…) e a influência das cinematografias realistas externas levaram os nossos cineastas à descoberta do mais característico cenário rural nacional: a pequena comunidade piscatória da Nazaré”, que se destacava pela sua riqueza etnográfica, humana e pitoresca (7).
E hoje, ainda há filmes para rodar na Nazaré?
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É livre a reprodução para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam devidamente citados.
Citar como: Quico, Célia (2008) “A presença da Nazaré no Cinema Português: entre o vanguardista e o folclórico”. Disponível em <http://nazare-portugal.blogspot.com/2008/06/presena-da-nazar-no-cinema-portugus.html> acedido em (data).
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Notas:
(1) (2) Ferreira da Cunha, Paulo Manuel (2001) “O Pescador: representações do homem e do seu meio no Cinema Português”, revista Oceanos “Os Pescadores” nº 47/48 Julho-Dezembro 2001, edição Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses.
(3) Bénard da Costa, João (1991) Histórias do Cinema, colecção Sínteses da Cultura Portuguesa, Europália 91, edição Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Citação disponível online em (consultado em 2007-07-03): http://www.amordeperdicao.pt/basedados_filmes.asp?filmeid=474
(4) (5) Pina, Luís de (1986) História do Cinema Português, edição Europa-América. Citação disponível online em (consultado em 2007-07-03): http://www.amordeperdicao.pt/basedados_filmes.asp?filmeid=474
(6) (7) Ferreira da Cunha, Paulo Manuel (2001) “O Pescador: representações do homem e do seu meio no Cinema Português”, revista Oceanos “Os Pescadores” nº 47/48 Julho-Dezembro 2001, edição Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses.
1 comentário:
Atrás pergunta-se se hoje ainda há filmes para rodar na Nazaré. Digo-vos que há. Leia-se, por exemplo, o meu conto "O Mouro da Praia da Foz" (Chiado Editora) e descubra-se o filme que, a partir dele se pode realizar.
António Lúcio Vieira
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